Adormeço a pensar o quanto te desejo.
Sempre te desejei e acho que desde sempre o soubeste.
Debruço-me por dentro dos meus sentidos para compreender o óbvio. Procuro distrair-me desse desejo de partilhar contigo o ar sôfrego dum beijo.
De um abraço que só de pensar nele me enche de uma mão-cheia de cócegas feitas de afectos.
Nunca soube que caminhos se percorrem para encontrar alguém como tu.
Confesso até que me assustas.
Não estou claramente à tua altura. Os teus labirintos, a força da tua energia, da libido e da capacidade de virar do avesso corações endurecidos pelo tempo é um desassossego.
Tenho medo de ti. Medo do silêncio em que desejas. Medo do olhar que despe.
Estou nu. Perante ti. Tal como o rapaz que espera a vez para o banho semanal de antigamente.
Mostras-me pelo magnetismo quão vulnerável sou.
De nada me vale o pressentir. De nada me vale saber que as minhas palavras são apenas uma legenda do que tu vives. De nada me vale olhar-te de frente. Porque nunca se olha o sol de frente.
Ouço-te em silêncio.
Prometo a mim mesmo que não entrarei em ti. Que não te percorrerei sem mapa. Que apenas te contemplarei. Apenas olharei para ti.
E cuidarei em não despertar os pequenos gnomos que desenham nas árvores do bosque os caminhos perfeitos.
Por esses caminhos correm os javalis incumbidos da missão de apagar chamas ardentes.
Sento-me no musgo entre eles enquanto sorvo o ar fresco do teu perfume.
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