Conheci uma musa há um tempo.
Tempo indefinido.
Podia ter vindo embrulhada num nevoeiro, mas veio aos repelões dentro do teu riso desafiante.
Os risos podem destruir diques sisudos ou muros de betão.
Mas os risos frescos de maroteiras juvenis são como os perfumes florais:
Entram em ti antes de os podermos pensar.
Os risos insinuados de graça e doçura terraplanam qualquer razão de ser.
Sobra o gostar. Como uma onda torrencial onde cheira maresia e pomares de maçãs.
O cheiro a maçã. O olhar de pêssego. E o rir que já sabias tomar de assalto almas de desassossegadas mas curiosas.
Não fiz nada. – dizes tu.
E finjo acreditar que qualquer gesto, qualquer insinuação, qualquer olhar, é pura imaginação. Pura coincidência.
E tu sorris com marotice.
E foges pelo prado espalhado a aura do teu perfume.
Será que és de maçãs verdes ou de pêssego aveludado?
A minha língua sem eu querer já te saboreia em todos os recantos do teu ser.
Os sabores são urgentes e cada pedaço de ti que viaja no meu desejo é límpido e suave.
Serás de pêssego? Serás de maçã?
Serás suave. Serás quente. Acolhedora e torrencial.
E nesse germinal assalto por ti tomarei desavergonhado os lábios que riem.
Sorrirás então com os olhos.
Os olhos que só as Musas tem.
E saberás ao pomar do paraíso do nosso desejo,
Inconfessável.
Porém guloso.
