Efervescente dúvida
Como um animal selvagem.
De energia incontrolável.
Sem rédea nem limite.
Pronta para sugar, montar e uivar.
Para te mostrar a vida pela maneira de fazer.
Tudo incendiado. Tudo molhado.
Toda a contradição faz sentido.
Mesmo que seja proibido permitir.
Morena luminescente
Passei os dias a lamber os teus olhos.
Sei que lá se encontra o tesouro que me escondes numa brincadeira só tua.
Olho-te dentro para buscar o lampejo da luminescência que sei existir.
Tenho todas as certezas do mundo impregnadas na duvida que semeias em mim.
Sobejam as perguntas.
Estremecem as minhas certezas absolutas.
E por isso mergulho.
Dentro do teu amor infinito que deixas lamber em todos os poros.
E é nesse imaginário que te percorro.
Nessa língua de palavras e olhares que sugiro derreter-te em desejo e luxúria.
Nesse xadrez que jogamos juntos num tabuleiro sobre brasas quentes.
E tudo fervilha por dentro. Luminescência e braseiro vermelho vivo.
Na urgência do beijo molhado que te imaginei em mim. Que faça do fogo um incêndio incontrolável.
Abraça-me com todos os teus segredos. Que assim não vejo no fundo dos teus olhos quanto desejas igual a mim.

Arrepiar de desejo
Percorre-me uma espécie de arrepio.
Sente-se nas bochechas. No engolir.
Ou no topo da nuca
E desce pescoço abaixo
Um formigueiro.
O engolir que provoca sorrisos
E a corrente eléctrica espinha abaixo.
Um prazer infinito.
Uma trepidação no corpo. E na mente que se expande.
Não posso dizer que as minhas mãos percorrem o teu corpo ávido
Que está quente. Mas arrepiado.
Como se os dedos percorressem a pele de galinha causada pelo sopro dos lábios.
E tudo reage.
Tudo está suave.
Dos lábios que se molham
Ou do olhar que se semicerra
Maneira de esconder a suavidade dos beijos na nuca. No pescoço.
Do toque nas costas que se espreiam
E tudo ferve.
Dos ombros que se encolhem.
Do umbigo que trémulo acolhe o passar dos dedos
Do lóbulo da orelha que se dá para ouvir no segredo do passar da língua.
E no peito o coração explode.
Arfa de desejo.
E faz subir a curva dos teus seios entumecidos
Perdidos de desejo e gula.
E tudo arde.
A cada beijo um arquear das costas conta o meu desejo indisfarçável.
Temos de parar.
Parar. Sim parar.
Mas tudo arde
Enquanto brincas provocadora com o teu seio guloso
E eu finjo não olhar.
E tudo treme
Ao passar da língua que tudo ordena
Húmida.
Do pescoço à barriga.
Sísmica. Telúrica.
Treme. Sinto isso
A cada beijo
Os teus seios estão fotografados na minha mente.
Guardado na mesma gaveta secreta com o teu cheiro
E o gemido de fundo. Do anúncio de prazer
E respiramos.
Juntos.

Escrever. Apagar. Escrever.
Quero escrever. Os meus dedos correm. A mente trava. Mais duas sílabas. Menos dois sons. Sai um corrupio de pedaços de desejos. Esmagados pela culpa. Contornados pelo zig zag da volúpia. A fome em tempos dieta. E o buffet, farto, magnífico, esfregando as tentações na gula que escorre pelo sangue quente das veias. O jorro do frenesim. O sabor antecipado do prazer inconsciente. E tudo treme. Tudo arrepia. Tudo palpita. Interditos murmurados. Palavras secretas nunca proferidas. Mas esse ímpeto. Essa libidinosa entrega à fantasia.

Rir primaveril
Súbito bom dia. Iluminado pelo riso. Generoso. Mas suave. Teu. Provocando. Calor. Intenso. Primaveril. Dum outono que parece Abril. Dum beijo em lábios de pêssego. Suaves. IContraditórios. Ardentes. Ora brisa de montanha. Ora vulcão. E tudo se ilumina. Apesar dos olhos fechados. Para não deixar escapar o arrepio incontrolado.

Arrepio na espinha
Sinto o arrepio da espinha que gostava de sentir em ti.
Voam as palavras da minha boca faminta para pousar no prado do teu alimento.
Uso a ponta dos dedos
- suaves, leves, curiosos, escravos –
para te mapear à flor da pele.
Dedos que contornam o teu rosto que ri enquanto fechas os olhos.
Olhos semicerramos que anunciam não querer ver, mas tudo sorvem.
Olhos quase tão entreabertos como os lábios húmidos de veludo ávidos do beijo imaginário que desejas te apague o fogo.
Ou te incendeie.
Escrava do pecado.
Do desejo contido mas que te percorre numa onda de gozo.
E te entregas. Fingindo-te contrariada.
Cheia de medo. Cheia de esperança. Cheia de gula.
E meus dedos podem parar no tempo e espaço.
Tapando o teu gemido sumido da tua boca.
No arquear do teu corpo. Cabeça para trás.
Corpo feito bola de fogo, húmido de lava e magistral.
E meus dedos mapeando-te como um cego lê um livro.
Contornado cada curva do teu seio. Cada pormenor do teu umbigo. Cada suave penugem onde brilha o orvalho do teu desejo.
E eu ardo. Incandescente. Inconsciente.
Perdidamente escravo de ti.

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