Palpitar

A natureza humana. Paixões, Desejos e Mortandades. Escrevo sobre Gula, Avareza, Inveja, Vaidade, Preguiça, Luxúria e Ira.

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Já te disse hoje…?

10.10.2020 by Palpitar // Deixe um comentário

Adormeço a pensar o quanto te desejo.
Sempre te desejei e acho que desde sempre o soubeste.
Debruço-me por dentro dos meus sentidos para compreender o óbvio. Procuro distrair-me desse desejo de partilhar contigo o ar sôfrego dum beijo.
De um abraço que só de pensar nele me enche de uma mão-cheia de cócegas feitas de afectos.
Nunca soube que caminhos se percorrem para encontrar alguém como tu.
Confesso até que me assustas.
Não estou claramente à tua altura. Os teus labirintos, a força da tua energia, da libido e da capacidade de virar do avesso corações endurecidos pelo tempo é um desassossego.
Tenho medo de ti. Medo do silêncio em que desejas. Medo do olhar que despe.
Estou nu. Perante ti. Tal como o rapaz que espera a vez para o banho semanal de antigamente.
Mostras-me pelo magnetismo quão vulnerável sou.
De nada me vale o pressentir. De nada me vale saber que as minhas palavras são apenas uma legenda do que tu vives. De nada me vale olhar-te de frente. Porque nunca se olha o sol de frente.
Ouço-te em silêncio.
Prometo a mim mesmo que não entrarei em ti. Que não te percorrerei sem mapa. Que apenas te contemplarei. Apenas olharei para ti.
E cuidarei em não despertar os pequenos gnomos que desenham nas árvores do bosque os caminhos perfeitos.
Por esses caminhos correm os javalis incumbidos da missão de apagar chamas ardentes.
Sento-me no musgo entre eles enquanto sorvo o ar fresco do teu perfume.

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A paz no bosque mágico

10.08.2020 by Palpitar // Deixe um comentário

Eu precisava de paz

E não tenho paz.

Eu precisava de serenidade

E sobra a ansiedade.

Eu precisava das pernas altas ao descanso

E sobra-me o cansaço dos metros corridos.

Hoje esvaio-me de sangue de uma energia que rompe pelo ralo infinito.

Hoje contento-me com a côdea dura das almas que penam insistindo em correr já mortas.

Hoje sobra a água salobra onde boiam os corpos.

Hoje sei que o rio nos escorre por entre os dedos como o tempo pelos corpos.

Inexorável.

Hoje sei que antes do fim me sentarei contigo de mão dada partilhando o ar puro e a caminhada pelo bosque mágico.

E com isso tudo fica em paz. Tudo sossega.

Já pode parar.

E parou no beijo que sonho todos os dias.

Suave. Sereno. Sussurrado.

E no bosque mágico o relógio descompassado dá horas certas.

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O silêncio dos inocentes

10.07.2020 by Palpitar // Deixe um comentário

Ouço-te no teu silêncio. Perscruto as tuas ansiedades. E comungo das tuas pequenas e grandes dores.

O silêncio oferece a possibilidade de ver dentro das nossas sombras o que mais brilha.

Quanto ouço o teu eco purificado na tua generosidade infinda quero dar-te um regado para te acolher.

É nesse silêncio que comungamos, carregado de palavras nunca ditas, que te direi

Não faz mal
Encosta a tua cabeça no meu peito e se quiseres respira fundo.
Não faz mal
E liberta essa pedra, qual Sísifo, montanha acima, que carregas por sentido do dever
Mas nada deves
E só sabendo isso, e aspirando a uma vida plena e útil, sentirás
A tua leveza
Da tua alma e mente. Serás assim
Livre
Para te cumprires
Mulher inteira
E num peito em que chores seja de esvaziar o que te pesa mas não é teu.
Ou chores de alegria
Celebrando–te plena.

Na insustentável leveza do ser, que Kundera escreveu, como se te descrevesse.

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O que farei quando tudo arde

10.06.2020 by Palpitar // Deixe um comentário

Hoje rasgava-te de beijos até morreres de prazer.

Hoje rasgava-te as roupas para me encostar ao teu corpo incendiado pela luxúria.

Hoje ardia-te em torrencial tesão por ti a dentro.

Hoje seríamos brasa e carvão duma fornalha de paixão.

Quem nem os beijos molhados apagariam.

Quem nem os fluidos salgados ou os gemidos abafados sossegariam.

Hoje é o dia.

É o dia em que te tomo por minha porque já sou teu.

Hoje a impossibilidade torna-se turbilhão.

Ferocidade faminta da tua boca.

Dos teus seios a exigir línguas escorregadias enquanto se revoltam ao meu gostar.

Hoje o teu sal é o meu sabor.

Que se mistura com o teu.

Hoje fundimos-nos numa centelha.

Faísca do amor original.

E abraçamos-nos um contra o outro,

virginais,

pecaminosos,

cumpridos.

Os teus olhos nos meus.

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SER FELIZ

10.05.2020 by Palpitar // Deixe um comentário

A felicidade é fugaz.

Mas sabemos onde ela está.

Sabemos que corre muito e que a conseguimos encontrar na esquina entre duas ruas, na foz do afluente com o rio maior.

A felicidade é uma corrente de água onde conseguimos boiar ou deslizar. Mas nunca a conseguimos parar e ficar com ela como num mar-chão.

Por isso quero mergulhar na tua água revolta e profunda.

Onde sei que a felicidade é um turbilhão de sal e ondas.

Mas sem o teu sal e as ondas que escorrem dentro dos teus labirintos mentais a felicidade é de papel.

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Mil perguntas

10.05.2020 by Palpitar // Deixe um comentário

Dicionário das mil perguntas

Que são dez.

Ou apenas uma.

És feliz?

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